quinta-feira, 22 de julho de 2010

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Louvor do Aprender


Aprende o mais simples! Pra aqueles
Cujo tempo chegou
Nunca é tarde de mais!
Aprende o abc, não chega, mas
Aprende-o! E não te enfades!
Começa! Tens de saber tudo!
Tens de tomar a chefia!

Aprende, homem do asilo!
Aprende, homem na prisão!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, sexagenária!
Tens de tomar a chefia!

Frequenta a escola, homem sem casa!
Arranja saber, homem com frio!
Faminto, pega no livro: é uma arma.
Tens de tomar a chefia.

Não te acanhes de perguntar, companheiro!
Não deixes que te metam patranhas na cabeça:
Vê c'os teus próprios olhos!
O que tu mesmo não sabes
Não o sabes.
Verifica a conta:
És tu que a pagas.
Põe o dedo em cada parcela,
Pergunta: Como aparece isto aqui?
Tens de tomar a chefia.


       Bertold Brecht, in «Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas»
       Tradução de Paulo Quintela

sexta-feira, 16 de julho de 2010

SOBRE A CRISE E O PEC NOS PAÍSES DA ZONA EURO

Divulgamos aqui um texto sobre a natureza e o significado da resposta que as classes capitalistas dominantes, particularmente no âmbito da União Europeia e da Zona Euro, estão a dar à presente crise económica. Este texto é assinado por Mark Weisbrot, co-director do Center for Economic and Policy Research, sedeado em Washington, D.C., nos Estados Unidos da América, e foi originalmente publicado no jornal britânico Guardian em 9 de Julho último, sendo posteriormente republicado no sítio da Internet da revista Monthly Review, no espaço MRZINE (http://mrzine.monthlyreview.org/).

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EXPLORAR A “CRISE” PARA ESMAGAR O TRABALHO

Uma coisa deve ser clarificada sobre a situação nas economias da Zona Euro e que fica obscurecida se nos ativermos ao que é normalmente dito nas notícias sobre tal tema. Esta não é uma situação em que os países dessa região estejam colocados perante um inevitável “dilema”, resultante de um excesso de despesa ou de um recurso exagerado à dívida pública. De facto, esses países não estão fatalmente confrontados com “escolhas drásticas” que os obriguem a diminuir despesas e elevar impostos enquanto a economia está fraca ou em recessão, de forma a “satisfazer os mercados financeiros”.

O que está realmente a acontecer é que interesses poderosos nesses países – Espanha, Grécia, Irlanda, Portugal – estão a tirar partido da situação para imporem as mudanças que desejam. Talvez mais importante ainda, as autoridades europeias – incluindo a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional -, que têm nas suas mãos a possibilidade de dispor de fundos de resgate das dívidas, estão ainda mais empenhados em mudanças políticas de direita do que os próprios governos nacionais, com a agravante de não terem de responder perante qualquer eleitorado.

Em Treze Banqueiros, Simon Johnson, ex-economista principal no FMI, e James Kwak descrevem as crises nos mercados emergentes na década de 1990 e salientam o uso que Washington fez dessas crises para promover as mudanças que lhe serviam, afirmando a dado ponto: “Quando uma dada elite económica conduz um país a uma crise profunda, é a altura adequada para impor mudanças, sendo que a própria crise representa uma oportunidade única, e breve, para o fazer”. Naomi Klein (em A Doutrina do Choque) fornece também uma excelente descrição de como as crises têm sido usadas para introduzir ou consolidar “reformas” económicas regressivas e impopulares.

É isto que está a acontecer actualmente nas economias da Zona Euro, com a crise a ser consideravelmente exagerada na maior parte dos casos. Espanha é um bom exemplo. A história segundo a qual a Espanha se meteu numa embrulhada devido a um excesso de despesa pública, não é suportada por factos. Este país reduziu fortemente a proporção da dívida relativamente ao Produto Interno Bruto através de um crescimento económico no período 2000-2007 (de 59 para 36 por cento do PIB), e registou saldos orçamentais positivos nos três anos que precederam o eclodir da crise, em 2008. Esta foi desencadeada pelo colapso de uma grande “bolha” especulativa no sector imobiliário, assim como no mercado bolsista: o valor das acções teve uma quebra brutal, de 125 por cento do PIB em Novembro de 2007 para 54 por cento um ano mais tarde. Isto teve como consequência uma forte redução da despesa privada, situação que foi agravada pela recessão mundial.

A Espanha tem neste momento uma dívida vincenda de 61 biliões de euros; as autoridades europeias poderiam, se quisessem, fornecer garantias o pagamento desta dívida para evitar a subida especulativa dos juros da mesma. Se não se verificasse esta subida de juros, a dívida da Espanha não ofereceria problemas, uma vez que não ultrapassava os 45,8 por cento do PIB em 2009, sendo os respectivos encargos de apenas 1,8 por cento do PIB (…). É certo que a Espanha regista um elevado défice orçamental (cerca de 9 por cento do PIB) e esta situação não pode manter-se por muito tempo. Mas não tem obrigatoriamente que se manter. O défice diminuirá por um processo inverso àquele que o fez subir: à medida que a economia cresça, as receitas fiscais elevar-se-ão, as despesas com os “estabilizadores automáticos”, tais como os subsídios de desemprego, diminuirão, e o peso da dívida na economia diminuirá também, que é o que interessa realmente. Não faz qualquer sentido cortar despesas e subir impostos nesta altura, enquanto a economia está ainda muito débil, a inflação é negativa e não existem riscos sérios de uma nova recessão.

É esta política contra-cíclica que importa prosseguir, a menos que o objectivo seja o de reduzir salários e benefícios no sector público, enfraquecer o trabalho, redistribuir o rendimento a favor das classes altas e eliminar serviços prestados pelo Estado. Nos Estados Unidos existe actualmente um problema político semelhante, embora de menor gravidade: os ideólogos do combate ao défice estão a desenvolver uma campanha para realizar grandes cortes na Segurança Social, mesmo que a sustentabilidade desta não esteja ameaçada pelo menos nos próximos 33 anos.

Ironicamente, aqueles que querem tirar partido da “crise” em Espanha, o que fazem é aumentar o risco de problemas sérios na dívida, uma vez que o peso desta subirá se a economia entrar em recessão ou estagnar, por via da adopção de políticas fiscais restritivas. Mas essas pessoas estão dispostas a correr tal risco, desde que isso lhes permitir atingir os seus objectivos políticos.


quinta-feira, 15 de julho de 2010

PROPRIEDADE PRIVADA

«A propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e limitados que um objecto só é nosso quando o possuímos.»                                                                                                                                         Karl Marx

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Garcia Pereira debate a situação do desemprego em Portugal

No passado dia 06/07, terça-feira, na ETV (canal 201 da Zon), o camarada Garcia Pereira debateu a situação do desemprego em Portugal.

Denunciando as medidas reaccionárias de austeridade que provocam cada vez mais desemprego e mais miséria, Garcia Pereira desmonta os falsos números apresentados pelo governo.

Oiçam aqui o áudio, e divulguem.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

DIA NACIONAL DE PROTESTO E LUTA

Dia 8 de Julho - dia nacional de protesto e luta, com concentrações, manifestações e greves em todas as capitais de distrito do país.
Convocada pela CGTP, o alvo desta iniciativa são as medidas reaccionárias anunciadas - e já muitas delas aplicadas - pelo governo.

Estaremos presentes nesta jornada, pugnando pelo derrube do governo do bloco central e, consequentemente, pela preparação, convocação e realização de uma Greve Geral Nacional com esse preciso objectivo político.

Todos à rua!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

MAIS DE 23 MILHÕES DE DESEMPREGADOS NA UE

Dados hoje revelados pelo Eurostat mostram que, em Maio, havia mais 1,8 milhões de pessoas desempregadas na União Europeia face ao mesmo mês do ano passado.

As estimativas do gabinete de Estatística Europeu apontam para um total de 23,12 milhões de pessoas desempregadas na União Europeia a 27, em Maio, 15,78 mil delas na zona euro.
Na união monetária, o número de desempregados terá aumentado em 35 mil indivíduos em Maio face ao mês de Abril.
Os dados do Eurostat mostram também que, em comparação com Maio do ano passado, o desemprego afectou mais 1,8 milhões de europeus na UE e 991 mil cidadãos na zona euro.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

UM POEMA DE GEDEÃO

Poema para Galileo


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.


Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.

Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

              ANTÓNIO GEDEÃO (1906-1997)

LIVRO - «UM COMBATE DESIGUAL»

É lançado hoje no Fórum FNAC do Colombo, pelas 18h 30m, o livro «Um combate desigual», da autoria de Marinho Pinto, actual bastonário da Ordem dos Advogados (e que já anunciou ir recandidatar-se a tal cargo).
Em «Um combate desigual», o autor analisa os três anos passados à frente dos destinos da Ordem dos Advogados.
Justiça e cidadania vão estar em discussão nesta iniciativa. Cabe ao camarada Arnaldo Matos a apresentação deste livro de Marinho Pinto.

A iniciativa é capaz de prometer!...